Revólver

Guardo religiosamente comigo
uma mortífera arma de fogo
ao mesmo tempo delicada e grotesca
de uma benignidade maligna
que ao dar-me segurança
é perigo eminente.
Sempre pronta ao disparo.
Guardo-a tal e qual a extensão
de meus próprios dedos.
Sempre pronta a coçar-me
a comichão que tenho de mim
e dos outros.
Trago com ela e como licença
para uso e porte de arma
dois motivos:
fazer mal aos outros
que eventualmente me farão mal a mim;
fazer mal a mim mesmo
prevenindo fazer-me mal.

E sorrio sempre
seguro de estar certo da minha causa
ao ouvir as notícias que nos badalam
fatídica e alegremente
o mal que os outros nos fazem.
Sabemos de cor os perigos que os outros
nos podem infligir.
Mas não nos dizem nunca
quanto mal podemos incutir
nas nossas pessoas
continuando vivos
e a pensar.

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