A tristeza em forma de uma melodia.


Afogamento

De tempos a tempos, quando não sempre,
Invade-me o corpo um impiedoso amor
E transborda pelos meus poros,
Materializa-se em grossas lágrimas,
Cristalinas da mais pura mágoa,
Em suspiros e tremores de alucinado,
Sintomas de não ser, em retorno, amado.

Mas não há nunca quem, genuinamente,
Seja lenço de seda pura e branca
Para me limpar esse louco amor-suor,
Que dos poros me vai escorrendo e encharcando.
Não existe quem, seco e murcho,
Queira matar a sede de um trago,
com as minhas lágrimas salgadas,
Húmidas torrentes nunca acalentadas.

E vem então, vagarosa, a resignação,
Com os seus vigorosos braços fatídicos
Empurrando para baixo o meu amor-cabeça,
Mergulhando-a no pantanal de minha paixão
Repleto do lodo do ciúme e da amargura...
O nariz entope-se-me, impávido e sereno,
Quase sem estrebuchar, desse amor imundo,
E nada mais posso eu fazer, exangue que estou,
A não ser aceitar meu fatum de renegado.

Mas eis que quando, inesperadamente
Meu amor ganha vermelhas guelras de Tritão,
Qual Poseidon furioso de tridente na mão,
Voltando a resfolegar, a ganhar um ímpeto doente,
E soprando os búzios da musical calmaria,
Fere os tímpanos surdos dessa resignação,
Tomando um novo fulgor, insidioso e atroz,
Pois se bem que novamente me desperta a vida,
Tão igualmente me traz o desditoso tormento
De não me ver reciprocamente desejado e querido.

Sangração

Sinto-me tão cheio.
Tão vazio.
Não sei...

Queria rasgar meu peito,
Libertar o que cá dentro mora.
Oprimido deste jeito
Não duro mais uma hora.

Ouvi dizer que
De desgosto também se morre.
Meu coração já nem bombeia
O sangue que em mim corre.
                                       [ou corria]

Uma das músicas mais belas e melancólicas que tive o prazer de conhecer há pouco tempo...

Baptismo

Criei hoje, dia 27 de março de 2013, o presente blog, o qual intitulei de "De Desgosto Também se Morre"...
Será um blog como tantos outros, onde vou aproveitar para deixar alguns estados de alma, alguns poemas ou rascunhos que eventualmente escreva, poemas com os quais me identifico, imagens ou músicas que me são queridas, e por aí vai...

Considero assim abertas as hostes!