Coisas Ternas

Gostava de só escrever coisas ternas,
Macias como seda ou fêmeas pernas,
Porém só saem de mim versos negros,
Não sei compor andamentos allegros...

Minhas palavras adensam como pedra,
Causadoras duma agonia que medra;
Quão complicado lê-las sem sufocar...
(Abre as janelas para que corra o ar!)

Difícil mergulhá-las sem aleijar,
Essas sílabas (mar de seiva de âmbar!)
Duras, de firmeza tácita, concretas,
Em que esbracejo agruras pouco discretas.

Tanto eu q'ria ser dos sonhos o poeta,
Cantar cantos à vida, simples, directa...
Queria o sol a branquear minha lírica,
Gracejar versos de toada satírica.

Ambicionei a leveza da palavra
que a caneta, suave, no papel lavra.
Porém fui me eu quedar na desilusão,
Afundei na descrença, na decepção.

Não há-de isto mudar, conquanto eu o queira,
E eu quero-o tanto, é ambição verdadeira.
Mas não sei como hei-de, não sou capaz...
Todo eu sou tão triste, tão escuro... Fugaz!

Na ressaca de compor, estranho o que escrevo,
Contudo, concluo que a mim nada devo.
Mas - querem a verdade? - escrevo o que sinto!
Há um certo exagero, mas sei que não minto.

Sem comentários:

Enviar um comentário