Por vezes vem-me a ânsia
de correr de braços abertos
de encontro ao mundo...
Deixar o sol a dourar e a durar
na crista das ondas
que vagam nas cearas de oiro
impelidas pelo vento ameno
e calmo da estação estival
que nos aquece a alma.
Águas fluviais serpenteiam
e insinuam-se por entre montes
de viçosa verdura ribeirinha
que delineia os contornos
de um rio que parece mais cristalino
que a própria sede.
E neste quadro harmonioso
há cegonhas a planar um doce sossego
nos ares celestes que o sol queima.
Porque é que ao fim da tarde
tudo parece mais real,
ao mesmo tempo mais mágico?
Porque é que com o cair do sol
emerge a beleza neutra que há nas coisas
e o coração se nos embebe da nostalgia?
Ah, como eu gosto do raiar rubro
do pôr do sol, a inflamar os céus
e o nosso ser!
E são nestes instantes pueris,
breves momentos de tréguas
que a vida nos concede,
que eu compreendo o sentido
de estar vivo e de não pensar.
...Estar tudo isto nos olhos de quem o vê
e no espírito de quem o sente!
Não ser preciso impregnar-me da razão
para a compreensão desta verdade!
Pois não pode alma outra
senão aquela em paz,
comungar de tal modo a beleza
daquilo que a rodeia;
Pois que a beleza do mundo
está nos olhos de quem o olha
com a tranquilidade necessária
aquando dos esporádicos acasos
em que temos a deleitosa coragem
de nos despojarmos de nós.
Mas são ténues estes momentos
e não justificam tudo.
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