«Esses dez anos esvoaram-se-me como dez meses. É que, em realidade,
as horas não podem mais ter acção sobre aqueles que viveram um instante
que focou toda a sua vida. Atingido o sofrimento máximo, nada já nos
faz sofrer. Vibradas as sensações máximas, nada já nos fará oscilar.
Simplesmente, este momento culminante raras são as criaturas que o
vivem. As que o viveram ou são, como eu, os mortos-vivos, ou — apenas —
os desencantados que, muita vez, acabam no suicídio.
Contudo, ignoro se é felicidade maior não se existir tamanho
instante. Os que o não vivem, têm a paz — pode ser. Entretanto, não
sei. E a verdade é que todos esperam esse momento luminoso. Logo, todos
são infelizes. Eis pelo que, apesar de tudo, eu me orgulho de o ter
vivido.»
Mário de Sá-Carneiro, in A Confissão de Lúcio
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